Esta série de editoriais contempla temas apontados como prioridade para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul por entidades da indústria, do comércio, do agronegócio e pelas bancadas estadual e federal de deputados em reuniões com o Conselho Editorial do Grupo RBS. Os temas abordados são:
• Fundo constitucional do Sul
• Formação profissional e recuperação da Educação Básica
• Falta de mão de obra e impacto de benefícios sociais
• Inovação e expansão de centros de tecnologia
• Infraestrutura logística e contenção de cheias
• Valorização e consumo dos produtos gaúchos
• Relevância do agronegócio
• Bancada federal no Congresso
A infraestrutura de transporte é, há décadas, um gargalo da economia gaúcha. A distância dos principais centros consumidores do país e de áreas produtoras de insumos essenciais para a indústria, como o aço, eleva o custo logístico, encarece os produtos manufaturados e mina a competitividade das empresas do Rio Grande do Sul. Uma das formas de reduzir essa desvantagem seria dispor de todos os modais operando com a máxima eficiência possível.
A resposta à tragédia tem de ser a preparação para o RS ser modelar em infraestrutura e resiliência
Mas, ao longo dos anos, se consolidou uma grande dependência das rodovias, deficientes em qualidade e cada vez mais saturadas, a grande maioria com pista simples. O uso de ferrovias, revigorado a partir das concessões, no final dos anos 1990, foi minguando conforme a operadora negligenciava a malha. A utilização de hidrovias, em que o Estado foi pioneiro no país, também definhou. O transporte aéreo, por seu turno, teve o potencial elevado com a ampliação da pista do aeroporto Salgado Filho, pleito histórico dos gaúchos.
Todos os modais acabaram severamente afetados pela enchente de maio 2024. Levantamento do governo gaúcho apontou danos em 13,7 mil quilômetros de rodovias estaduais e federais. Pontes e trechos de estradas foram arrastados e a queda de encostas interrompeu o fluxo em outros pontos. A ligação ferroviária com o restante do país está cortada até hoje. Hidrovias foram prejudicadas pelo assoreamento, levando embarcações a encalhar. O Salgado Filho ficou mais de cinco meses sem operar e até hoje não recuperou o movimento anterior ao evento climático.
A reação à tragédia deve ser o ponto de partida para uma virada na infraestrutura do Estado. Rodovias e pontes atingidas, em grande parte, estão sendo redimensionadas para resistir a novas chuvas extremas. Ao mesmo tempo, há investimentos em duplicações em vias relevantes em andamento. Tendem a desafogar o trânsito, ainda que as obras ocorram em ritmo lento, caso das obras sob responsabilidade pública. Um programa robusto de desassoreamento de canais navegáveis está em curso. Aos poucos, o aeroporto recupera os voos que tinha e volta a ser opção para a movimentação de cargas. O único modal sem perspectiva concreta é o ferroviário. Ainda é necessária uma resposta forte da sociedade gaúcha para insurgir-se e exigir a reversão da situação intolerável de hoje.
A mesma determinação precisa ser vista na execução das grandes obras de contenção de cheias. Deve-se cobrar que os projetos de diques e outras estruturas voltadas a proteger os aglomerados urbanos sejam planejados e construídos para ar enchentes como a do ano ado. O desafio é conciliar celeridade com qualidade dos sistemas de proteção, evitando a repetição dos transtornos, prejuízos e mortes. A resposta à tragédia tem de ser a preparação para o Rio Grande do Sul ser modelar em infraestrutura e resiliência climática. Esta é uma condição que catapultará a competitividade do Estado.