— Estou aqui há dois. É muito tempo — comenta uma senhora.
— É engraçado: as situações vão ficando extremas e nem percebemos — diz uma mulher que vive dentro de um carro com a filha.
Uma pergunta que fica em aberto é por que um documentário que busca dar visibilidade aos sem-teto não identifica os personagens quando eles surgem em cena? Seus nomes aparecem somente ao final, nos créditos, mas desacompanhados dos rostos — de modo que só por dedução sabemos que Ronnie "Futuristic Astaire" Willis é o dançarino de rua astro de imagens poéticas em Los Angeles, e que Patricia Wilcox é a Patty que corre o risco de ser morta por um ex-companheiro no Echo Park, na mesma cidade.
Mas esse detalhe não compromete o olhar humanizante de Onde Eu Moro, muito bem expressado em palavras por Luis Rivera Miranda:
— Quando a polícia vem me enxotar, eu falo: eu sou como vocês, eu faço as mesmas coisas que vocês. Eu escovo os dentes, eu como, mas faço tudo isso em vários lugares. Todos os outros fazem tudo isso dentro de um só lugar. Mas faço as mesmas coisas que todo mundo faz. Nada de diferente.
É um dos muitos depoimentos tocantes do documentário. Talvez um dos mais arrepiantes seja o da mãe de três crianças, quando ela explica por que, mesmo tendo o a alimentação em um abrigo, faz questão de comprar no supermercado ingredientes para preparar ovos, bacon e canjica a pedido dos filhos. As falas são intercaladas por imagens que contrastam conforto doméstico e a construção de arranha-céus com a falta de moradia: avenidas e parques tomados por barracas, acampamentos às margens de rios e ferrovias, automóveis transformados em casas. São cenas que, em que pese a familiaridade do espectador com o assunto, nunca deveriam deixar de impressionar. Não podemos, jamais, deixar de nos sensibilizar com a questão dos sem-teto.