No caso das mães enlutadas, a situação é um pouco diferente, já que justamente o pesar não se dá em relação a situações perdidas, mas sim pela falta da oportunidade de vivenciar experiências com aquele bebê. Algumas maternidades têm tomado providências de criar registros do bebê para que os pais tenham alguma memória do pequeno que se foi. Por exemplo, fazem um cartão com o carimbo do pezinho, nome e mecha de cabelo. Esse cuidado pode auxiliar a família a sentir-se acolhida e compreendida pela equipe que está atendendo o caso.
É importante ressaltar o caráter singular do enfrentamento da perda, já que cada pessoa pode apresentar diferentes comportamentos. Ainda assim, as manifestações de tristeza, em geral, tendem a se tornar menos intensas com o ar do tempo. Surge o pensamento em novos planos para a família, seja com uma nova gravidez ou através da retomada de uma maior animação nas atividades cotidianas.
Em conferência no Fronteiras do Pensamento deste ano, o psicanalista e escritor Contardo Calligaris explanou sobre os desafios contemporâneos. Foi enfático ao dizer: "É preciso sentir as dores: das perdas, do luto, do fracasso. Eu acho um tremendo desastre esse ideal de felicidade que tenta nos poupar de tudo o que é ruim". Provavelmente, as mães enlutadas se sentem ainda mais pressionadas se houver tanto repúdio à dor.
Ainda bem que seguimos com o Dia de Finados e a possibilidade de mantermos um espaço para dar vazão à aflição, tentando elaborá-la através dos rituais de agem (missas, rezas, visitas ao cemitério etc). Filhos que se foram nunca serão esquecidos. Como ressaltado no filme Viva – A Vida É uma Festa, animação da Pixar que retrata a morte: “A gente só morre quando é esquecido”.