
Tenho ouvido muita gente falar sobre prompt, aquele comando que é dado a uma linguagem de inteligência artificial, para ela responder assertivamente ao questionamento feito pelo usuário. Também escutei muito sobre leads, aqueles clientes em potencial que mostram interesse por produtos ou serviços, mas precisam ser direcionados para efetivar as compras. Ouvi também, em diferentes fóruns, sobre a obsolescência de boa parte das funções, a partir da transformação do mercado de trabalho e da chegada de novas tecnologias para auxiliar ou substituir parte da mão de obra. Todas essas informações e inferências estiveram pontuadas por dados e projeções, com relativo grau de objetividade. Não tinha me dado conta de que, no próximo ano, estaremos mais perto de 2050 do que dos anos 2000.
Essas percepções são um reflexo, mesmo que raso, da minha imersão na Gramado Summit, evento com sete palcos em apresentações simultâneas e uma série de outras conversas paralelas sobre diversos assuntos, realizado entre quarta e sexta-feira. Interessante ver como especialistas têm soluções avançadas para problemas que ainda nem apareceram, mas o motorista de Uber que me levou para o evento na sexta mal sabia usar o aplicativo. Era de outra cidade, não conhecia o percurso e jamais ouviu falar do que estava sendo discutido nos espaços do Sierra Park. Existe, sim, um abismo entre as pessoas e é preciso ter cuidado para essa tecnologia ser inclusiva e não segregadora. Precisamos transcender à bolha, cada vez mais.
Existe, no entanto, um fio condutor capaz de minimizar essas diferenças. Obviamente, por ofício e preferência, escolhi acompanhar falas que trouxessem um quê de humanidade para as rodas de conversa. Fui entusiasmadíssima assistir à palestra de Luiza Trajano e encontrei uma mulher determinada e consciente, com preocupação social e humildade. Disse que nunca quis perder a essência – e isso inclui um sotaque mineiro que ela considera meio brega. Palestras costumam vir acompanhadas de frases de efeito e alguns clichês, mas é o entremeio que conecta. Em um ambiente que se vende pela disrupção, é muito bonito ver alguém mostrar o básico feito com excelência.
Rony Meisler, fundador da Reserva, disse que a matéria-prima da evolução é audição: ao ouvirmos o outro, podemos entender dores e fortalezas e a partir disso resolver problemas.
Marco Túlio Lara, o guitarrista bonitão do Jota Quest mesclou música com um relato singelo das escolhas na vida. Achei lindo o filósofo Gilmar Marcílio declamando parte do poema A Arte de Perder, de Elisabeth Bishop: "A arte de perder não é nenhum mistério;/Tantas coisas contêm em si o acidente/De perdê-las, que perder não é nada sério".
Ou como um fio temporal invisível conecta Rodrigo Faro criança, dançando na porta do SBT para ser notado por Silvio Santos, a ele anos depois, interpretando o principal apresentador brasileiro em um filme. No final das contas, são apenas histórias.
É no algoritmo da realidade que a vida acontece. São as conversas que mudam as pessoas — e são elas que transformam os processos e o mundo. As interações e relações sociais são as lições que ficam. Olhar para o outro com atenção, para mim, vai ser sempre o ato mais revolucionário e transformador. Numa tela, máquina ou, melhor ainda, fora dela.