
Nos anos 1960, um veículo pra lá de inusitado costumava chamar a atenção por onde asse, em Antônio Prado. Era a famosa “Fubica” de seu Felix Fortunato Giulian, o Nonno Felice (1905-1978). Dotado de assoalho de madeira, capota de lona de caminhão e maçanetas feitas de tramelas, o “calhambeque” era usado pelo simpático senhor para as mais diversas demandas: bailes, campeonatos de futebol, piqueniques, eios pelo interior, o que mais precisasse.
Corta para 2025. As lembranças da velha fubica viraram livro - escrito pelo sobrinha-neta Vivi Costa - e também um divertido espetáculo cênico-musical, já apresentado em Antônio Prado, cidade natal do nonno, e Veranópolis. Agora, “Um eio de Fubica” chega a Caxias para duas apresentações na Casa das Etnias, dia 11 (leia no quadro abaixo).
A fubica era um sonho de Felice. Mobilizando família, vizinhos e a comunidade do “Prado” para juntar peças e construir um meio de transporte próprio, o nonno acabou criando memórias afetivas em diversas gerações de “ageiros”. A filha Odete Lúcia Giulian Agostini que o diga.
Prestes a completar 86 anos, ela lembra de ter ido a bailes de gala no Clube União a bordo da Fubica, juntamente com as irmãs mais velhas e uma prima da mesma idade.
- Ele ficava orgulhoso de nos levar.

NO “PESSEGUEIRO”
Conforme as lembranças da família, o veículo era um elemento de integração na comunidade, não só nos dias de trabalho ou para auxiliar a vizinhança.
- Nos finais de semana de verão, a fubica ficava lotada. Todos queriam fazer piquenique no “Pessegueiro” - ponto de referência em uma fazenda distante da área urbana de Antônio Prado - ou ir se banhar no rio Rostão, então de águas cristalinas - recordou a filha.
Detalhe: nos dias de campeonato de futebol é que a Fubica tinha a sua lotação mais “democrática”: a carona era para torcedores de times adversários, e as bandeiras compartilhavam a alegria da vitória e o consolo da derrota.

LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA
Autora do livro "A Fubica do Nono Felice", que inspirou o espetáculo, Vivi Costa recorda de seus eios de Fubica na infância:
“No final dos anos 1960, nas férias de verão, quando minha avó ia ajudar a Nonna Julia (elas eram irmãs) a fazer compotas, doces de frutas e chimias de marmelo, uva e figo, eu ia ar uma temporada no Prado. Foi então que tive a oportunidade de andar na Fubica. Está tão presente na minha memória a alegria, a correria dos primos e primas para subirem no carro. Lembro de ter ficado surpresa com a manobra para dar a partida na Fubica: era um tal de gira a chave na ignição, retira a chave, corre à frente da Fubica, gira a manivela do motor até escutar o seu ronco, volta rapidamente ao assento do motorista; pede que fechem a tramela da porta para, finalmente, sairmos: morro acima, morro abaixo, a Fubica pelo Prado”.

AGENDE-SE
O quê: espetáculo “Um eio de Fubica”. Roteiro e direção de Zica Stockmans, com direção musical de Cibele Tedesco. A montagem destaca costumes dos descendentes de imigrantes, diálogos e músicas em talian, além da cultura gaúcha.
Quando: dia 11 de junho, às 10h e 14h.
Onde: Casa das Etnias (Av. Independência, 2.542, entre o Fórum e o Centro de Cultura Ordovás - Caxias do Sul)
Quanto: apresentações gratuitas destinadas a alunos de escolas e beneficiários dos Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) do Município, inscritos na atividade.
Patrocínio: a montagem e circulação inicial da obra foi realizada com recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Contou com o patrocínio de Viprado, Dohler, PerfilComp, Nutrire e Pisani. Parte da circulação também é financiada pela Política Nacional Aldir Blanc - contemplada no edital de Memória e Patrimônio, com a Realização do Procultura -RS e da Secretaria Estadual de Cultura do Rio Grande do Sul.
Apoios: o projeto tem o apoio cultural da Faculdade de Antônio Prado, do Sesc de Bento Gonçalves e dos departamentos de cultura das prefeituras de Veranópolis e Antônio Prado. A produção cultural é da LFC Cultural, com realização do Ministério da Cultura do Governo Federal.
