O segundo domingo de maio é destinado para lembrarmos e vivermos momentos com nossas genitoras. Cada um tem sua história, suas lembranças e suas memórias que permeiam a família. Eu, por exemplo, ainda tenho mãe, tias e avós para aproveitar este dia.
Minha grande família italiana, por parte de mãe, é formada pela minha vó, matriarca por questões da vida. Meu vô faleceu muito cedo e minha vó precisou assumir este papel. Minha mãe, a filha mais velha, teve que exercer sua função desde muito cedo também. E, pasmem, vira e mexe o aniversário dela cai no Dia das Mães. Neste ano, dia 12 será na segunda-feira, mas como boa iradora da astrologia, acredito que nada é por acaso. Talvez minha mãe tenha nascido mesmo para ser mãe.
Se tivesse que eleger um vinho com a cara dela, seria um Cabernet Sauvignon, sim, sua variedade favorita. Um pouco por ter vivido a expansão da casta, nos auges da sua adolescência em Garibaldi. Mas acredito que a mãe tenha a casca dura, cheia de taninos e polifenóis, e ao mesmo tempo, polpa doce. Com maturação ganha seu espaço e conquista todo mundo. Domina por onde a, mas só depois da primeira taça, como o Sauvignon, que no primeiro gole chama e quer atenção, mas depois envolve e ganha a cena.

Minha vó, seria Cabernet Franc, genitora da Cabernet Sauvignon, que a idade lapidou as arestas. Pisciana e intuitiva, a dona Rosa preserva suas amigas da escola, mas também tem as novas de 20 anos por saber transitar entre todas as idades. A vó acolhe, assim como o Franc. Desconfie de quem não degusta um Cabernet Franc e desconfie de quem não gosta de colo de vó.

Já a tia Ana Beatriz, a sexta filha da minha vó, é mãe de quatro filhos e vó de duas princesas. É discreta e elegante. Merlot do Vale dos Vinhedos, a primeira denominação de origem para vinhos no Brasil é o perfil da Ana Bea. Chega na taça e, ao ir abrindo, seus aromas tomam a cena. Sempre usando linho e blazer, vai bem tanto para um piquenique no vale, como para um jantar com vários talheres.

Para finalizar, tia Mari. A nona da prole é a minha tia mais nova, com idade e posicionamento de irmã mais velha. Também é mãe da Julinha, que é a protegida da família. Versatilidade é o nome dela. Vai do oito ao 80 sem perder o jeito de menina. Chardonnay, com agem por madeira, que o toque adocicado remete à ternura da tia Mari, que é pedagoga na essência por ter ensinado todos os seus sobrinhos.

Dias das Mães é a data em que os sentimentos falam mais do que a razão. É data para se emocionar, sentir e refletir. Assim como o vinho, que é a única bebida que tem capacidade de nos emocionar, que em cada taça nos entrega história, terroir e lembranças. Que nos faz viajar com as nossas memórias olfativas, que nos faz recordar com saudade do bolo da vó, a partir do aroma de fermentação que nos faz retornar a momentos especiais pelo gosto de amora na boca ou pelo tanino amarrado que faz voltar no dia que comemos caqui liga no quintal.
Colo de mãe é consolo. Vinho também. Após um dia exaustivo, só queremos beber uma tacinha no conforto do lar, seja para conversar e dividir o dia ou apenas para ganhar um colo com carinho em silêncio. Se nos permitirmos sentir e refletir sobre o que está na taça, tenho certeza de que todos poderão chegar às Cabernet, Chardonnay, Moscatos e demais personalidades que cada mãe tem.
Um brinde a elas. Um feliz Dia das Mães, em especial à minha Cabernet Sauvignon!